Correio Paulinense

Paulínia, 26 de julho de 2024
Pauliprev: Secretários e até irmã de Dixon (PP) teriam indicado “gestoras de fundos”

Última atualização em 8 de maio de 2018

Onze dias após deixar o comando da Diretoria Financeira do Instituto Pauliprev, Luciano Geraldo Porto enviou ao Presidente do Conselho de Administração, Fernando Roveri, uma carta esclarecendo “algumas questões” sobre a conduta dele no cargo, da nomeação, dia 5 de janeiro de 2017, à exoneração, dia 12 do mês passado. Porto iniciou afirmando que integrou a “equipe executiva” do Pauliprev a convite de Reginaldo Vieira, secretário-Chefe de Gabinete do prefeito Dixon Carvalho (PP).
Segundo o ex-diretor, quando assumiu o cargo, o Pauliprev estava “em uma situação muito delicada, quanto a equipe e a carteira de investimentos”, e sua primeira medida foi orientar o Conselho de Administração a não fazer nenhum novo aporte (investimento) em fundos no mercado privado, apenas em bancos públicos, como Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. “Até que tivéssemos noção total dos problemas da carteira (de investimentos já realizados pelo Instituto), e assim foi feito”, explicou ele.
No documento, Porto relatou as dificuldades que teve de enfrentar para permanecer no cargo. “Tínhamos vários problemas a enfrentar dentre eles, o mercado de fundos podre (fundos de altíssimo risco para o investidor), os lobistas e a tentativa de ingerência (intromissão) na nossa atividade. Isso gerava uma enorme intranquilidade, pois, toda hora, éramos ameaçados de demissão”, escreveu ele, sem citar quem o ameaçava.
O ex-diretor afirmou ter adotado uma forma de manter-se à frente da Diretoria Financeira do Pauliprev. “Então, adotamos a estratégia de atender a todos os fundos e pessoas que vinham indicadas, mesmo sabendo que não gozavam de boa credibilidade”, explicou e completou: “Junte-se a seu inimigo, se quiseres saber como ele pensa”.
Porto anexou à carta 18 (dezoito) cartões de empresas gestoras de fundos de investimentos, as quais, segundo ele, teriam sido indicadas pelas pessoas que aparecem denominadas em cada cartão. O nome “Reginaldo” aparece nos cartões das empresas Aquilla (duas vezes), Genus Capital Group, Positiva CCTVM e Roma Asset. A Reag Investimentos e a Ar Capital Real Estate e Estruturações teriam sido indicados por “Rui”. “Renato DM” aparece nos cartões da Triunfo Consultoria e FMD Asset. Caruana S.A. teria sido indicada por “Alessandro (Sec.).
O Correio apurou que, em reunião no Pauliprev, Luciano Geraldo Porto, afirmou que “Reginaldo”, “Rui” e “Alessandro (Sec)”, os quais supostamente teriam indicado sete gestoras de fundos para receberem aportes do Instituto, são os secretários Reginaldo Vieira (Chefe de Gabinete), Rui Rabelo (Obras e Serviços Públicos) e Alessandro Baumgartner (titular de Finanças e interino de Negócios da Receita). A inscrição “Irmã Pref.”, no cartão de visita da Terra Nova, seria uma referência à uma das irmãs do prefeito Dixon Carvalho (PP). 

ERRATA: Rui Rabelo é Secretário de Desenvolvimento Econômico e não de Obras e Serviços Públicos, conforme erramos acima. 

O “Renato DM”, no cartão da FMD Asset,  trata-se de Renato de Matteo, dono da gestora de fundos de investimentos. De acordo com a Polícia Federal, De Matteo aparece nas investigações sobre uma rede que desviava recursos de várias previdências municipais, incluindo a de Paulínia (Pauliprev). A FMD, segundo a PF, chegou a administrar R$ 590 milhões em recursos de RPPS (Regime Próprio de Previdência Social), e, De Matteo convencia os responsáveis pelas aposentadorias municipais a fazer investimentos arriscados, supostamente, em troca de vantagens indevidas.
O Correio não conseguiu apurar as inscrições “Vigiar” no cartão da TMJ Capital e “Lucas FP2” no da Austro Capital. Nos cartões das gestoras Que Luz, Horus Investimentos, Capital Investimentos e Infinity não constam indicações.
Nossa reportagem tentou ouvir Luciano Geraldo Porto, mas ele não retornou nossas mensagens. Não conseguimos contato com Reginaldo Vieira, Rui Rabelo, Alessandro Baumgatner, Renato De Matteo e o prefeito Dixon Carvalho (PP). 
Operação “Encilhamento”
No último dia 12, a Polícia Federal esteve na sede do Instituto Pauliprev de Paulínia cumprindo mandado de busca e apreensão. O Pauliprev está entre as previdências municipais investigadas por investimentos suspeitos com o dinheiro do servidor público municipal. 
Segundo a PF, um homem chamado “OMAR” teria pedido R$ 1,5 milhão ao empresário Isaltino Braz de Andrade Junior, dono da Incentivo Investimentos Ltda, para um suposto FUNDO DE CAMPANHA do prefeito Dixon (PP). De acordo com o relatório preliminar da PF, após a busca e apreensão na cidade, o valor da propina corresponde a 5% (cinco por cento) dos R$ 30 milhões que o Instituto Pauliprev tem investidos no Fundo Piatã, até então, administrado pela empresa de Isaltino. 
O Piatã foi um dos fundos investigados pela CEI do Pauliprev, no ano passado, que apontou um rombo estimado em R$ 260 milhões nos cofres da previdência dos servidores públicos municipais, causado por investimentos em fundos podres. As investigações da PF contabilizaram, até agora, mais de R$ 190 milhões em prejuízos causados por investimentos em fundos podres (de alto risco). O vereador Tiguila Paes (PPS) entregou pessoalmente à Polícia Federal cópia do relatório final da CEI.
Consta também no relatório da PF, que o pedido de propina feito pelo tal “Omar”, ainda não identificado pela investigação, tinha como contrapartida o voto favorável do Instituto Pauliprev à permanência da empresa Incentivo como gestora do Fundo Piatã. O relatório aponta ainda que, em vez de R$ 1,5 milhão, o interlocutor misterioso “chegou a dizer que alguém teria solicitado 3 milhões em 5 vezes”. 
O mais espantoso, no relatório da PF, são as suspeitas, ainda não confirmadas, do possível envolvimento de Reginaldo Vieira, secretário-Chefe do Gabinete de Dixon (PP), e de um integrante da nova gestão do Pauliprev, identificado no documento como Luciano, com o misterioso “Omar”, que teria pedido a propina para o suposto “Fundo de Campanha” do prefeito da cidade.
No item “Ação Controlada” do relatório a PF afirma: “Também foram realizados encontros entre OMAR e ISALTINO, organizados por OMAR, com LUCIANO presidente da PAULIPREV e com REGINALDO ANTONIO VIEIRA, chefe de gabinete do PREFEITO DIXON RONAN CARVALHO”. 
O Luciano citado no relatório da PF, possivelmente, trata-se do ex-diretor financeiro Luciano Geraldo Porto, que enviou a carta ao presidente do Conselho de Administração do Instituto, Fernando Roveri. Ex-presidentes e ex-diretores do Pauliprev também estão sendo investigados pela PF.  A próxima fase da operação Encilhamento será ostensiva e pode resultar em novas prisões temporárias ou preventivas. 

Foto: Reprodução

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