Última atualização em 28 de janeiro de 2018
Eleita pela Veja, em 2016, como a quinta melhor telenovela brasileira de todos os tempos, O Bem Amado, de Dias Gomes, exibida de janeiro a outubro de 1973 pela Rede Globo, durante a pior fase da ditadura militar, é o retrato antigo mais atual de centenas de administrações municipais, país afora. Odorico Paraguaçu, prefeito da fictícia Sucupira, no litoral da Bahia, era um político corrupto, demagogo, mentiroso e cheio de astúcias, mas que esbanjava carisma.
Na Câmara, ele contava com o apoio e devoção da vereadora Dorotéia (Ida Gomes) e com a oposição implacável do vereador Lulu Gouveia (Lutero Luiz). Em vez de educação, segurança ou saúde, a prioridade da administração Odorico era a entrega do cemitério de Sucupira, uma obra superfaturada e que só foi inaugurada com a morte do próprio prefeito canastrão, no fim da primeira novela em cores da TV brasileira.
Três décadas e meia depois do capítulo final da grande sátira política que foi O Bem Amado, uma das faraônicas e questionadas obras do baiano real Edson Moura, o Teatro Municipal de Paulínia, ganhava o nome de Paulo Gracindo, o grande e saudoso ator que, por coincidência, viveu o baiano fictício Odorico Paraguaçu. Além da naturalidade, Odorico e Moura têm em comum o carisma e o poder de persuasão. Um foi eleito prometendo a obra do cemitério, que cumpriu e inaugurou. O outro foi eleito três vezes prometendo transformar Paulínia numa Cidade de Primeiro Mundo, que ficou apenas na ficção.
Depois de Moura, vieram outros “Odoricos” não tão carismáticos quanto, mas cheios de promessas mirabolantes que nunca saíram e, dificilmente, sairão do papel. Ponte, Educação, Saúde e Segurança de Primeiro Mundo, Informatização dos Setores Públicos, Fartura de Remédios, UBSs 24 horas, Creches para todas as crianças, Uniformes e Materiais Escolares, Casas para todos, Atendimento digno no Hospital, Exames para todos, entre tantas outras promessas, infelizmente, ainda não são realidade numa cidade que pode ter tudo isso e mais um pouco.
Depois de eleitos, os nossos “Odoricos” esquecem tudo o que prometeram e passam a maior parte do tempo cuidando de seus investimentos pessoais em mansões, gados, cavalos, carros importados, castelinhos, postos de combustíveis, fazendas, faculdades, e, “vez e outra”, gastando “alguns” dólares no exterior.
Mas, mesmo com suas movimentadas agendas de negócios, como Prefeitos eles sempre arrumam um tempinho para fechar entidades sociais, extinguir ou diminuir bolsa de estudos, cortar transporte de alunos, cortar auxílios públicos para os que mais precisam, planejar fechamento de instituição para idosos, fazer investimentos suspeitos com o dinheiro do servidor, construir e depois abandonar obras que custaram milhões públicos, alugar carros e mais carros para a população pagar, e, se brincar, até superfaturar merenda, lixo, feira de ciência, entre tantos outros contratos públicos.
Pois é, o Odorico Paraguaçu, de Dias Gomes, morreu no capítulo 178 do inesquecível folhetim global, mas reencarnou em Prefeitos de Paulínia e de tantas outras cidades brasileiras, transformadas em verdadeiras “Sucupiras”.
Foto: Reprodução
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