Correio Paulinense

Paulínia, 26 de julho de 2024
Ícone do judô de Paulínia comemora 50 anos de tatame e a glória de ensinar a arte e o bem para mais de 2 mil crianças

Última atualização em 3 de outubro de 2013

Por Lucas Rodrigues

[imagem] Um dos pioneiros no Judô em Paulínia, Mercival Daminelli trabalhou na montagem da Refinaria Planalto, na década de 70, quando também conheceu a sua futura esposa Ana Maria Breda Daminelli, foi encarregado da antiga CBI Lix, comerciante dono de bar, mas o que queria mesmo era ensinar Judô.  Passou um tempo na Venezuela e quando voltou à Paulínia comprou um terreno e realizou o seu grande sonho: construir a sua própria academia. 
Pai de Mercival Breda Daminelli, também Sensei (Professor) de Judô, o mestre foi o primeiro Kodansha (Faixa preta, 6º Dan em diante)  de Paulínia e em cinco décadas já ensinou a arte japonesa para mais de mil crianças paulinenses. Para brindar o cinquentenário, este ano, do grande mestre, a coluna “Puro Esporte” do Correio Paulinense Online traz uma entrevista exclusiva, onde ele resume a sua importante biografia de vida, dentro e fora dos tatames. Acompanhem!
 
Lucas Rodrigues – O senhor nasceu em Itu, mudou-se para Campinas em 1957 e depois para Paulínia. O que o trouxe para cá?
Shihan Mercival – A minha esposa é de Paulínia. Nos conhecemos em 1970 e daí em diante comecei a vir para Paulínia com frequência. Neste mesmo ano trabalhei na montagem da Refinaria Planalto. Depois fui encarregado da antiga CBI Lix, mas, mesmo trabalhando em outras áreas, o meu sonho sempre foi ensinar judô.
LR – E como o senhor começou ensinando judô em Paulínia?
SM – Ah, comecei realizando treinos no chão duro. Depois dei uma parada, viajei para a Venezuela e quando voltei montei um bar na cidade. Passado algum tempo comprei um terreno e montei a minha academia. Isso foi em 1989. 
LR – Vamos falar da primeira vez que o senhor pisou em um tatame, em 1963. Como foi este início?
SM – Como em tudo na vida, enfrentei inúmeras dificuldades. Na época, como não tinha dinheiro para ir treinar de ônibus, eu praticamente atravessava Campinas inteira à pé até a academia. O esforço valeu à pena porque logo me tornei instrutor.
 
LR – De lá para cá como foi a evolução do judô?
SM – O Judô evoluiu muito no Brasil e hoje está entre os cinco melhores do mundo. Por exemplo, o desenvolvimento das mulheres neste esporte tem sido espetacular. Aliás, as mulheres estão bem melhores no esporte e também em diversas áreas de trabalho. 
LR – O senhor já praticou futebol, futsal e lutas livres, mas parece que no judô o senhor se encontrou como atleta e ser humano. Foi isso mesmo?
SM – Com certeza. O judô foi um pai para mim. Com sou de uma família bem humilde, meu pai trabalhava o dia inteiro para sustentar a casa e a minha mãe era quem me dava suporte e ajudava muito. Mesmo naquela época, quando as coisas não eram como são hoje, tive convites para as drogas, o crime, tudo quanto é ruim. Graças ao judô não segui nenhum desses caminhos e hoje estou aqui. 
LR – Entre junho de 63 a fevereiro de 64 o senhor conquistou as faixas branca, azul verde e marrom do judô. Este é o tempo normal que qualquer atleta levaria para conseguir tantas graduações ou o senhor foi um caso atípico? 
SM – Hoje em dia um judoca para conquistar a faixa preta pela Federação Paulista de Judô tem que demonstrar aproximadamente uns 100 golpes. Eu fui realmente um caso à parte, neste ponto. Por exemplo: o início da minha carreira um dos meus mestres me promoveu à faixa marrom, depois de me ver derrubando algumas vezes um campeão de judô, com quem fiz alguns treinos. Já a conquista da faixa preta demorou mais um pouco, devido à falta de dinheiro para me dedicar mais. Hoje, graças a Deus, com muita dedicação já estou em tempo de ser promovido para o 7º Dan.
LR – Em sua opinião, o judô é uma das poucas lutas que trabalham realmente, acima de tudo, s o equilíbrio emocional e o desenvolvimento intelectual de uma pessoa?
SM – Exatamente isso. Se dependesse de mim o judô se tornaria matéria obrigatória nas escolas. Nesses anos todos conheci pessoas com problemas de drogas, que começaram a pratica este esporte e mudaram suas vidas para melhor O judô forma pessoas honradas, disciplinadas e ensina que sozinho ninguém é nada, que só evoluímos com a ajuda de um companheiro. Essa filosofia leva mostra ao individuo a importância do respeito mútuo e da humildade.
LR – Um ano após ter começado no judô o senhor já definiu como meta pessoal e profissional ter a sua própria academia. Como foi realizar este sonho?
SM – Como disse, comecei no chão duro, sem condições e ainda tendo que sustentar minha família, trabalhando paralelamente como mecânico e eletricista, e ainda encontrava tempo para ir aprender os Katas (conjunto das técnicas fundamentais, sendo um método de estudo especial, para poder transmitir a técnica, o espírito e a finalidade do judô) em São Paulo. Hoje me sinto realizado porque mesmo com todas as dificuldades consegui abrir minha academia e ensinar o que aprendi pra muitas pessoas. 
LR – De todas as academias pelos quais o senhor passou qual e que mais marcou na sua carreira?
SM – Foi a academia do mestre Motoyuki Murayama. Nela eu encontrei meu “ninho” e muito apoio, tanto que só saí de lá quando o meu mestre Murayama, que sempre me incentivou, disse que eu estava apto para montar a minha própria academia. 
LR – O mestre Murayama foi o principal em sua carreira ou todos com quem o senhor treinou foram importantes?
SM – Todos foram importantes, mas o marco foi o Murayama. Na época, ele treinava com os melhores, mas me encheu de orgulho gastando um pouco do seu tempo comigo. Até mesmo depois que saí de lá, ele veio algumas vezes na minha academia. 
LR – Filhos, netos, esposa, todos no judô. Já são duas gerações Mercival brilhando nos tatames. O que isto representa para o senhor?
SM – Representa a continuidade do meu sonho. Minha esposa e filhos seguiram no esporte, depois vieram meus netos. Fico feliz com isso, pois para mim é um engrandecimento pessoal.
LR – O senhor faz ideia de quantas crianças já passaram pelos tatames da “Mercival”, até hoje?
SM – Certamente, mais de duas mil já treinaram comigo. Sempre estou reencontrando muitas delas e sinto orgulhou de como estão levando suas vidas, hoje, e de saber que o judô contribuiu para que todos tivessem uma vida melhor.
 
LR – Nestes 50 anos de judô, quais os títulos mais importantes que o senhor conquistou?
SM – Títulos importantes, como estadual, brasileiro e mundial eu nunca conquistei. Como não tinha condições cheguei a ficar sem treinar por um tempo. Eu disputava apenas campeonatos da região e nestes consegui me destacar, vencendo muitas competições, com a tática de entrar com os golpes pelos dois lados, o que confundia os meus adversários.
 
LR – Quando a Associação Mercival foi fundada em Paulínia?
SM – Em 1975 e já começamos disputando importantes torneios regionais.
 
LR – Faça um resumo dos títulos mais importantes conquistados pela Associação Mercival de Judô?
SM – Temos mais de 200 troféus. São tantas conquistas que nem consigo explicar. Mesmo com dificuldades nossa equipe consegue se destacar em diversas competições.
LR – Algum atleta da academia que merecer o seu destaque especial?
SM – Todos são muito talentosos. Mas o Gabriel Varanda, um dos três melhores do Estado, e Aurea Luana são os destaques da academia, hoje.
LR – Além de ter se tornado um ícone do judô da cidade, o que mais o senhor pode destacar para nós?
SM – Com muito orgulho destaco o meu filho Mercival Breda, que realiza o seu trabalho com as mesmas dificuldades, pois as portas não se abrem. Apesar de tudo, ele se dedica ao judô com amor, sem se preocupar com questões financeiras. Saber que o meu filho meu filho ama o esporte e que eu pude ajudá-lo a ser um excelente professor, me deixa muito feliz.
LR – Para encerrar deixe uma mensagem para o público sobre a importância não apenas do judô, mas do esporte em geral na vida de uma pessoa. 
SM – Posso falar que o esporte é uma das coisas mais úteis e indispensáveis para a vida de todos nós. O esporte forma cidadãos. O esporte é base de vida. O judô, por exemplo, afasta crianças da criminalidade, mas não é tão valorizado quanto o futebol, pois a sociedade capitalista de hoje visa mais modalidades lucrativas, infelizmente.  Mas, independente disso, praticar qualquer esporte é muito mais do que recomendável. 

Foto: Lucas Rodrigues/CP Imagem

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